sábado, 21 de junho de 2008

Poema














Os Beatles não devem cantar sozinhos

Amiga, canta comigo
aqueçamos esta noite fria
este ambiente invernal
com nossas vozes calientes
de ternura e paixão

Enquanto na vitrola McCartney canta Get Back
e Yesterday
e diz que Jojo deve desistir das ervas da Califórnia
& voltar para Tucson
que fica no Arizona, em Pima, se não estou enganado

Eu também
cá com meus botões, divago
e entre umas & outras
também acompanho a música
que ordena:

Get Back, Get Back

-Volta, volta
Júlio César
para o lugar de onde você veio e que
não está tão longe
& nem faz tanto tempo assim...
& o tempo é tão relativo e ardiloso
& tua Pasárgada parece que te chama
& há tanta coisa ainda por fazer
por lá...
(novamente)

Na noite de sábado
esta cerveja gelada aquece o corpo
& a alma
e Paul continua cantando
agora Yesterday
e eu vejo o Ontem
& também
vejo o Amanhã


Get Back, Get Back

Amiga, canta comigo
porque os Beatles não devem
cantar sozinhos
ainda mais nesta noite fria
e tão quieta que está lá fora
de tristes ruas sombrias
e desertas
(metrópole gelada & fantasma)

Cantemos, então, aqui dentro
pois quem canta
seus males espanta
assim já diz o dito
popular

E não precisa preocupar-se
com a exatidão
do rítmo pois
preciosismo
não é o mais importante
& aqueçamos - isso sim é o que vale -
esta noite invernal
com nossas vozes calientes
de ternura
& paixão...

Tucson, Porto Alegre, Liverpool, Canoas
& Santiago
tão distantes
tão diferentes
e tão próximas...

& assim eu vejo o Ontem
e também
vejo o Amanhã!

Get Back, Get Back!


Júlio Garcia - 2008

domingo, 15 de junho de 2008









Como Neruda


De tanto nadar contra a maré
de tanto receber
em plena luz do sol ou
na calada da noite
de onde menos esperava
traiçoeiras e quase fatais
punhaladas
de tanto ver a miséria
e a injustiça campeando a rédeas soltas
& abatendo os mais fracos
& os mais humildes
& o sonho da igualdade
& da fraternidade distancioando-se
no espaço & no tempo
& a impunidade grassando
quase incólume
nas 'cúpulas do poder'...

às vezes dá vontade
de 'chutar o balde'
(e mandar às favas as regras
de convivência
ou da 'boa educação')...


....

Mas resisto, respiro fundo e
buscando forças nas reservas da carne
& do espírito
& nos músculos que já não respondem
como em outros tempos
mas que se superam e reagem
- como Fênix

& nauseado e triste
mas resoluto, determinado
continuo em frente
(navegar é preciso)
combato com as armas mais diversas
& entre um
& outro round
como Neruda
encontro tempo para escrever
alguns poucos poemas de amor
e esta canção
desesperada.

Júlio Garcia - 2008

sábado, 14 de junho de 2008

Poema
















Cenas de junho


'Amanhã, vai ser outro dia...' (Chico Buarque)

Em frente ao Palácio
estudantes protestam na tarde gelada
a polícia de 'choque' defende o poder
(questionado)
nas alcovas sombrias
a continuidade dos desmandos é tramada
e o saque voraz das coisas do povo
-continuado
sem pejo
sem controle
e sem dó
alongando a indecência
que agride as consciências
e que mantém incólume
a injustiça
e instiga a revolta

..........

Na tarde invernal
bandeiras vermelhas tremulam ao vento
na praça do povo
que grita de fome
de raiva
& de dor
preparando a desforra

que virá... que virá...

que virá...

Júlio Garcia- junho/2008